# Bom dia a você amigo, que por algum motivo foi escolhido pela cegonha
a nascer, crescer e viver em determinada família... Bom dia a você que por
fazer parte desta família, aprende a amar – e odiar – seus parentes, compreende
seus ataques bipolares, suas manias e falta de modos à mesa... Bom dia a você
que já se acostumou com cada um dos malucos da sua linhagem e já não se espanta
mais com as atitudes e as particularidades de cada um... Não, pelo contrário,
você os ama, incondicionalmente, afinal de contas eles são sangue do seu
sangue, sua gente, cuidaram de você por toda a sua vida, lhe amaram quando você
se borrou nas fraldas e sequer tinha dentes na boca, lhe amaram quando você
tomou porre na festa de fim de ano e vomitou na mesa da ceia, lhe amaram quando
você virou punk, quando você se tatuou e até quando se rebelou contra o
mundo... Sua família, seu amor, mesmo sangue, sua gente, você lutaria por eles
e eles por você... Sempre! Mas, e aquele amor que surge do nada? Estamos
atravessando a rua, ou sentamos em um restaurante e aparece ele... Aquele cara
que você nunca havia visto na vida, aliás, você nem reparou nele, mas ele
reparou em você, e por algum motivo esta troca de olhares mexe com você... Por
algum motivo a rua ou a comida já não importam tanto, você quer olhar para ele,
mas com certo receio, mas com certa discrição... Há mais pessoas em volta, ele
pode ser casado, ter namorada, pode até achar que você só quer se safar de ter
de pagar a conta, quem sabe o que passa na cabeça destes homens? Mas a troca de
olhares se intensifica e você vai ao banheiro e um olhar lhe persegue até a
entrada, depois na saída, e ao fechar a conta e ao pagar a conta e a noite se
vai... Você pensa nele, sonha com ele, imagina ele e quer vê-lo novamente...
Vocês se encontram... E o olhar novamente se cruza... Vocês conversam, e suas
bocas se tocam... Você pensa: Como? Por quê? O que me faz despertar uma vontade
de ver mais uma vez alguém que sequer conheço? Como confiar em um sentimento
que surge tão de repente? Por que esta sensação boa e ao mesmo tempo
amedrontadora? Este sentimento bonito e cândido e ao mesmo tempo tão fútil?
Será que compartilhamos um pedacinho daqueles que amamos? Será que o pó das
estrelas que se dividiu quando formou o nosso universo pode estar na composição
daquele outros a quem sentimos algo mais forte? Não é tão estranha a sensação
de querer possuir alguém, de querer ter esta outra pessoa tão perto de nós a
ponto de nos fundirmos? Não é estranha a sensação de que já conhecíamos aquela
pessoa? De querer cortar suas asas para que ela nunca fuja do nosso lado? E por
que algumas pessoas ficam em nossa mente, em nossas vidas, em nossos sonhos?
Mesmo distantes, mesmo intocáveis, mesmo que nossos corpos estejam a milhares
de quilômetros de distância, há algo que parece fazer com que nossas almas se
toquem e se confortem... Não há explicação para a complexidade dos seres que
somos, nem tampouco para a complexidade desta coisa chamada amor, mas é certo
que este é um dos sentimentos essenciais a nossa sobrevivência, é certo que sem
amor eu nada seria, é só o amor... É só o amor... #
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