sexta-feira, setembro 30, 2011

Hoje acordei meio... É o tempo que me mata


Hoje acordei meio... É o tempo que me mata
 
# Bom dia a você que na mesma usualidade diária, após aquela rotineira noite de sono meia boca, teve que deixar o conforto do seu colchão para encarar a vida neste grande zoológico urbano... Bom dia a você que diferentemente dos outros dias, em que joga uma água no rosto e escova os dentes na corrida, hoje se olhou no espelho... Bom dia a você que parou uns segundos e olhando para aquela imagem refletida e não se reconheceu... Bom dia a você, que devido a sua atribulada rotina diária, de minutos preciosos e segundo imperdíveis, não têm conseguido olhar e cuidar de si, bom dia a você que olhou para o espelho hoje e viu uma figura diferente, quase irreconhecível... Bom dia a você que não apreciou o que enxergou, a você que procurou aquele brilho no olhar, aquela alegria, e viu só um rosto pálido e envelhecido, com o olhar distante e opaco, sem vivacidade, sem paixão, quase sem vida... Bom dia a você que se viu de uma forma assustadoramente real, triste e cansada, por um lado feliz por estar viva, mas triste por não estar realmente vivendo... Bom dia a você que resolveu parar uns segundos e olhar suas mãos frias, suas veias aparecendo, a tamanha translucidez de sua pele, a ponta dos dedos cianóticos, os braços cansados, o pescoço dolorido, tenso, e seus ombros pesados... Você sente o peso do mundo nas suas costas, como se tivesse carregado sacos de farinha, mas os seus sacos levam algo muito mais pesado do que farinha, levam, e continuarão levando, responsabilidade e estresse... Bom dia a você que não reconheceu seu corpo, afinal, faz um bom tempo que você não tem olhado para ele, talvez ele esteja gritando, pedindo uma pausa, pedindo uma caminhada despretensiosa, um sorriso para uma coisa boba, um suspiro profundo, um bela esticada de braços, mas é impossível, você não pode parar por 20 minutos, não pode perder seu precioso tempo, precisa trabalhar, estudar, andar a 100 km por hora, ir ao supermercado, responder e-mails, fazer comida, lavar pratos, fechar janelas, abrir janelas, organizar planilhas, criar projetos, escrever projetos, executar projetos, regar as plantas, pagar contas, ufa, isto toma todo o seu tempo, e você não pode parar ou deixar de fazer, nunca... Bom dia a você que mesmo cansado, não reconhecendo sua imagem refletida no espelho, assustado com o quanto você tem envelhecido, com sua palidez e opacidade, não pode deixar de fazer nada do que faz rotineiramente, mesmo sabendo que esta rotina está lhe matando, mesmo sabendo que sua vida está se esvaindo como grãos de areia pelos dedos, como poeira jogada pelo vento, mesmo sabendo que os segundos da sua vida são assustadoramente finitos...# 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contribua com sua filosofada também!