Hoje acordei meio... O bicho da seda
# Bom
dia a você que acordou fazendo tudo sempre igual, sacudido as 6 da matina pelo
despertador, seguindo a rotina de banho, roupa, café, trabalho, estresse, casa,
pijama e cama... Bom dia a você que todos os dias faz tudo exatamente do mesmo
jeito, e se preocupa com o que vai comer, se a esposa tá te traindo, se o filho
está bem na escola, se as pessoas gostaram do seu sapato novo, se o seu pai
está tomando o remédio para o coração, e todas as outras coisas que são todas
idênticas... Então você chega em casa e percebe que falta arroz! Como um robô,
você pega seu fusca 74, dirige até o super mercadê, caminha até a gôndola dos
arrozes e volta para sua bela casa de bonecas... Se te perguntarem qual era a
fisionomia da caixa que lhe atendeu, você saberia me dizer? Você poderia me
contar se o empacotador era um menino ou menina? Tá, você estava desatento,
tudo bem... Mas e ontem? Você se lembra da pessoa que entrou no elevador com
você, que desceu no mesmo andar que você, e que talvez trabalhe na mesa ao lado
da sua? Você saberia me dizer se é homem ou mulher? Loira ou ruiva? Hãn? Não
né... Pois é... Você não saberia dizer ontem, nem anteontem, nem semana
passada, nem nunca! Por quê? É sua memória que está indo embora? Você está
ficando cego? Míope? Não amigo, você está somente cada vez mais tomado por este
terrível hábito humano de olhar para o seu próprio umbigo, assim como eu e toda
a sociedade... Não nos interessa se o vizinho sente fome ou frio, desde que nós
estejamos agasalhados e saciados, não importa se há guerra no oriente, desde
que não haja na nossa casa, tá tudo certo, não importa se falta medicamento
para câncer, afinal, não temos a doença! Não importa nada, desde que não nos
afete... Somos bichos da seda, vivemos em nosso casulo próprio, não estamos nem
aí se há dor e sofrimento na nossa calçada, o que importa é que ele não adentre
nossa casa... Se há morte ali do outro lado da rua, o que importa é que alguém
recolha o cadáver... Não estamos nem aí para o outro, por que a prioridade
somos nós... Aprendemos de uma forma desastrosa que somos nós em primeiro
lugar, o problema é que o outro não está em segundo, nem tampouco em
terceiro... E é o círculo vicioso do eu quero, eu preciso, eu tenho, eu posso,
eu sou... Até que o tempo do querer, precisar, ter, poder e ser se esgote...
Até o momento em que você precise que alguém olhe POR você... Até o momento em
que você precise de alguém que olhe PARA você... Talvez então você deixe de
viver dentro de seu casulo, se preocupando somente com seu umbigo, e descubra
quantos outros umbigos também existem por aí... #
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